domingo, 23 de fevereiro de 2014

Creme de canela

Sono desajustado. Fome errada. Paz influenciada. Calor curitibano, preguiça baiana. E meu copo de leite quente. Não calmante, não remédio. Só leite com chocolate quente. Sem pensar no tempo que eu tenho a minha disposição, ao meu cavalete de pintura fiel que – por semanas a fio – permanece ao lado da cama, confiante que eu vou, em algum momento, me ater a sua função. O teclado mudo. Tudo porque a arte não fluiu mais. Porque em algum momento eu não precisei mais da desordem da minha vida, a discórdia consagrada, ou os nossos sorrisos flutuantes em domingos de sol e almoço na casa dos seus parentes. A fotografia também se dissipou. Entende, moreno? Acabou. Não eu, não você, não os domingos. A vontade. A vontade de expressar nosso café e o creme-de-canela nos meus quadros, na minha poesia ou no meu instrumento, se antes eu queria tanto e agora é tarde demais. E não é por sua culpa, não é. Mas eu também não sei escrever sobre mais nada. Tua alma, ao que diz contato com teu cabelo, teu perfume, ou tua cor da pele, são acalentos. É tudo acalento. E agora, nessa mesma madrugada, se eu me pego me perguntando sobre a princesa que você andou escrevendo num dos teus textos nesses últimos meses, veja bem, eu tenho vontade de atirar no chão meu leite com achocolatado que, até eu terminar teu texto, já esfriou. O problema não é a vodka que tá faltando aqui, é a tua cor morena nos meus quadros em branco, empilhados no canto do quarto. O teu timbre suave, que toda vez que você fala me faz pensar que tua voz deveria, sim, soar mais forte, porque todas as vezes que você ri eu tenho essa vontade chata, injuriante, de deitar no teu colo e rir contigo até a risada cessar e você começar, enfim, a me apertar com mais força e eu te fazer parar o carro em uma rua sem movimento pra que a gente ria cada vez mais junto, pra depois deixar a risada sem graça pra mais tarde, porque eu ainda tenho, sim, essa vontade de ti. Não tô pedindo nada, moreno, mas tô querendo tudo. Te deixo fotografar meu perfil do lado que mais odeio se você topar descer a Graciosa ouvindo Milo Greene enquanto eu troco de roupa na estrada. Te dou aquele livro da protagonista lasciva - com dedicatória - antes de você viajar (pela terceira vez) se você voltar e me levar num show do Cícero. Mas volta. Que é pra eu me aconchegar no teu peito enquanto choro a história de um andarilho. Que é pra você me levar pra velejar enquanto eu canto You Are My Sunshine. Que é pra gente viver aquelas viagens a dois que ficaram só na nossa cabeça. Volta pelo teu mocha. Volta pelo meu macarrão. Pelos nossos passeios com o seu cachorro. Volta. 

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