sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Julho.


E essa tela azul acima da gente, é pra rir ou pra chorar? O céu brinca de se pintar, enquanto a gente acha motivo pra se afundar naquele mar interno, porque não importa se é cima ou baixo, o mundo gira no nosso devaneio de sentido aleatório pra nos deixar no centro, confusos, tansos e tontos; eu saí do torpor quando percebi que o vento, escuro e forte, causava medo, e enquanto olhava pro mar inverso de pontos luminosos lá pra cima, como se cima fosse baixo e baixo fosse tudo. 

Lamúria alternativa.


Um miado do vento no rodopio de um salto inglês. Era tudo sobre não deixar os pés para fora da cama, meu bem, ou os copos que deixamos fora do descanso no bidê, caiu feito uma luva derramar todo seu conflito perante meus cílios curvos. Caiu feito um conflito derramar tua saliência em mim, cachinhos. Ou fosse o derrame dos meus olhos sobre o quarto que era cheio demais para tanto esconderijo, de qualquer modo, aumenta esse volume. E nem sequer pensa em deixar pra depois a fúria reprimida de agora, tu tens isso de querer lembrar-se de outrora, e ter medo de abrir e fechar os olhos na declamação de dor da noite.
- O que eras, afinal? Tu me perguntaste.
- Explosão de adrenalina e chutes involuntários, enquanto Eu queria estar em abraços quentes e inconscientes, sem noção do porquê de tu me olhares daquele modo.
Então tu só aumentas o som novamente, não é o suficiente, mas nem sequer usa a voz pra negar, não. Impaciência no bolo de sujeira, cigarros na noite passageira pra aliviar tua falta de ar, porque tu só sabes perder o olhar sentido que ela dá a todos os lados, exceto  ao que tu ocupas. Mas tu não sentes culpa, Gosto da Arrogância; engole meu veneno, escarra chocolate maciço, porque tudo que eu tenho pra te falar se cobre de mais uma camada de pó diariamente, e tu já pode até declamar pra mim. Miado à noite em que tu tens necessidade de atravessar as fronteiras pra se acolher de ternura, e passado o momento sentia a razão de poder erguer a voz e não dar satisfação. No final era só pra te lembrar de que havia quem queria sussurrar aonde tu gritavas, ou que ela escolhia quem lh’aquecia, e em certos momentos tu só parecia a escolha errada.

Mas te aquieta, meu bem, o que tu sentes eu sinto também.
Só que é mais. Só que não me satisfaz.
Então para de marcar e me chama, só me chama.

SóTão.


Olha pra cima. Respira, só respira. Levanta, anda no escuro pra olhar nos olhos do teu medo. Sente tudo arrepiando e aceita que não tens o que vomitar. Aceita que não tem nada pra jogar. Se recusa a sentir tudo de novo. Aprende que a arritmia é quem dá essa ânsia, e que tu vai ver teu peito pular, mas teu coração não vai pular pra fora, embora tu torças ao contrário. Lida com o fato de que dói; doeu, dói e vai doer, e que, no momento, o máximo que tu podes fazer pra desvirtuar é te aquietar debaixo daquele chuveiro gelado. Vai pintar; tua parede, tua alma. Tira essa corrente em volta do teu pescoço, tua mãe bem lhe alertou que ela te enforcaria, caso tu se esquecesses de e fosse dormir. Lida. Aprende a lidar. Muda. Vê a tua mudança. Só não permanece deitada, de corpo atado, frouxa, o pulso frouxo, a felicidade afrouxada. E seja aquela praia, aquela noite, e se deixa ser. 

- E eu não sei mais se o meu medo é o escuro ou o medo dele é que eu não tenha mais medo.

11.

E as luzes nem se apagaram ainda. Mas não era supostamente sobre o que deixamos passar, meu amor, pois eu estive evitando, para sempre, indiretamente, eu e você, ou os pés para fora da cama, mas infelizmente olhei para o buraco no teto e te pedi para acender a luz. E agora não sei mais se é receio ao susto ou à dor que outrora me proporcionou, a questão – sim, a questão – é que os pesadelos cessaram, realmente, mas tamanha fobia não se aquietou, não, e tu só dizes que é hipocondria e que os remédios são farinha - mas porque revelou, meu bem, eu precisava acreditar em algo na tua ausência, ainda mais na tua presença – e tudo que era branco, diziam os contos, nasciam pra gritar e me assustar, e é por isso que as lágrimas ainda não cessaram. Quarentena de temor, e eu nem vi, ou pressenti. Era sono, pois então, e eu tirei das tomadas o que havia restado dos sentidos, mas era sonho, agora, e a perna levantando involuntária assustou – a audição não ouvia nada, além de silêncio; o paladar dizia que precisava do doce, ou de tudo que tu dizias agora com receio de que fosse tarde demais; o olfato se encantou de lembrar a fragrância que restou dos últimos lençóis que deitamos; o tato te sentiu me abraçando, mesmo que não devesse sentir nada; e a visão... oh não, viu tua mão descansando imunda, em mim, em ti. Mesmo que não fosse a tua, aliás.

Recôndito.


Recanto. E tudo que eu não tinha à mão perante teus olhos de anomalia. Recanto, e só. Ou só o que me acalma, o que me livra das olheiras e dos remédios. A raiva e a melancolia não eram comuns pra quem estivesse em comunhão com si mesmo, dizia eu, ora tonta de desprazer,  ora miada declamando com ternura, mas foi antes.

E aquele pontinho luminoso lá em cima, atrás nessa noite gelada, a gente conhece bem, meu bem; é a lua que, desconversando de soslaio, pergunta mansa e tansa onde foi parar tamanho sentimento.